A Paternagem exige Atitude Adotiva.


Tatiana A. M. Valério
Professora do IFPE Campus Belo Jardim
Doutoranda em Psicologia Cognitiva – UFPE
Fundadora e Assessora Pedagógica voluntária do GEADIP*



A cultura impõe regras e modelos que acabam moldando comportamentos e papéis sociais. Um desses papéis é o “ser pai”. Um modelo que orienta o exercício da paternidade é o biológico, ou seja, o vínculo estabelecido é o de parentesco genético. Esse modelo vem de uma ideia antiga de patriarcado, em que o homem exercia, na família, autoridade, muitas vezes com violência, sobre as mulheres e crianças. 
Nesse modelo biológico, o homem era o provedor da casa e sua relação com os filhos era marcada pela distância afetiva. Essa herança cultural persiste em muitos lares até os dias de hoje, onde a falta de afeto na relação pai e filho se perpetua.
Os papéis sociais, entretanto, têm se reconfigurado frente às demandas da modernidade e outro modelo cultural, nesse cenário, surge, ganhando força a cada dia. É o modelo social ou cultural de pai. Ele é marcado pela prática do cuidado, do amor, do afeto. Ele extrapola a paternidade – entendida puramente como o vínculo genético – e ganha a dimensão da afetividade, isto é, o papel do cuidado e das trocas afetivas passam a constituir a relação pai e filho ou filha. Assim surge a paternagem, que exige uma atitude adotiva do homem (pai) em relação ao seus filhos e filhas.
No contexto da adoção, a decisão de adotar nem sempre começa pelo homem ou é aceita por ele com tranquilidade – quando falamos de adoção por casais heterossexuais. Isso pode estar ligado, equivocadamente, à questão da virilidade masculina, muito associada à procriação, apenas. Isso é um mito que precisa ser amplamente discutido e superado, uma vez que as qualidades ou virtudes paternas não estão na capacidade do homem em gerar biologicamente crianças, mas tão somente na sua capacidade de adotar seus filhos ou filhas, gerados ou não por ele.
É muito fácil constatar o quão comum é a ideia de que pai é aquele que gera. Bastar vermos as situações onde homens realizam testes de DNA para comprovar um vínculo genético com a criança. O teste acaba por ser um instrumento necessário que obriga o genitor a cumprir seu papel de provedor e de responsabilidade para com o suprimento das necessidades físicas da criança, resultando em uma pensão alimentícia. Mas a necessidade afetiva da criança, que também é uma necessidade básica, jamais será preenchida por quem apenas comprova vínculo genético.
O tornar-se pai é construído na relação, na prática do cuidado, do amor, do afeto. Isso é paternagem, e não paternidade. Vários autores comprovam que tanto o pai quanto a mãe estão aptos a cuidar de uma criança. Exercendo tais tarefas, o homem está verdadeiramente sendo pai. Não é a quantidade de tempo que o homem investe nessa relação paternal que se dará a construção da paternagem. O que importa é a atitude que ele toma quando está junto com o filho ou filha. A ATITUDE precisa ser ADOTIVA. Só adotando a criança que nasce, os genitores tornar-se-ão seus pais. Quando isso não ocorre, pessoas, sabedoras da necessidade da atitude adotiva na construção da paternagem ou maternagem, assumem para si essa tarefa e tornam-se pais ou mães, através da adoção, daquela criança que perdeu ou nunca teve a proteção de seus genitores.


Fonte:
*Grupo de Estudo e Apoio à Adoção do Vale do Ipojuca (GEADIP)
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