O outro lado da adoção


Retirado do site:  http://www.adocaobrasil.com.br/o-outro-lado-da-adocao/

O outro lado da adoção



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O outro lado da adoção
Temos acompanhado lindas histórias de adoção, mas como toda história tem um outro lado vamos conhecer um pouco sobre “O outro lado da adoção”.
Registrado em uma matéria da Revista Época em Julho/2009 e a Veja.com em Agosto/2015 mostra que as taxas de retorno aos abrigos continuam bem assustadoras.
Trecho da revista Época – Kátia Mello e Liuca Yonaha. Colaboraram Martha Mendonça, Nádia Mariano e Rodrigo Turrer:
“Luiz, de 12 anos, chegou a uma das Varas da Infância de São Paulo apenas com uma mochila nas costas. Nenhum brinquedo, nenhum livro, nenhum CD. Além de trazer poucos pertences, o menino parecia triste. Bem triste. Estava ali para ser devolvido. Depois de cinco anos em uma família, a mãe que o adotou não o quis mais. “Foi devolvido como se fosse um saco de batatas”, disse a psicóloga da Vara da Infância, Mônica Barros Rezende, que acompanhou o caso. A alegação da mãe adotiva foi que ele não obedecia mais. “Não aguento mais. Ele desobedece, falta na escola”, teria dito ela. A intervenção do Conselho Tutelar não adiantou.”
Trecho da Veja.com – Por: Nicole Fusco:
Cadastro Nacional de Adoção, do Conselho Nacional de Justiça, registra 130 casos de crianças que retornaram aos abrigos desde 2008: uma média de DUAS a cada 45 dias
“Mas o que leva um casal a querer devolver uma criança adotada depois de um processo que envolve espera e enorme expectativa? Para a promotora Helen Sanches, especialista em convívio familiar, a desistência é resultado da falta de preparo dos futuros pais. “A criança adotada tem uma história de vida, de violência e sofrimento, o que vai tensionar a fantasia dos pais com relação a ela. Se a pessoa não estiver preparada, no segundo ou no terceiro problema a ideia de que o filho é adotado vai assumir um peso excessivo para ela”, diz.”
“A psicanalista Maria Luiza Ghirardi, que tem um mestrado sobre o tema, aponta como estopim da crise de convivência a maneira como os pais lidam com os temores sobre a origem da criança – especialmente as incertezas sobre os pais biológicos. “Se os pais não conseguirem assimilar a criança, colocando-a no imaginário na condição de filho, ela vai ser sempre vista como coisa que não pertence a eles e que, por isso, pode ser devolvida”, disse.”

“No entanto, apesar do caráter definitivo, a Justiça acata algumas exceções e opta pela devolução sob o argumento de preservar o bem-estar da criança. Isso porque, em um lar onde há rejeição, os traumas vividos – não só emocionais, mas também físicos, já que a negação pode resultar em maus-tratos – podem ser maiores do que se ela tiver a oportunidade de encontrar outra família. “Se os pais adotivos estão renegando o filho, deixar a casa pode ser benéfico”, diz a psicanalista Maria Luisa.
Há três tipos de desistência analisadas pela Justiça: 1) ainda durante o período de estágio, porque a adoção ainda não aconteceu e o recuo é previsto em lei; 2) após a adoção, quando o registro de nascimento já foi alterado para o nome dos pais adotivos, e nesse caso os pais respondem por abandono de menor; e 3) quando menores são acolhidos por um parente dos pais biológicos, que depois desiste da responsabilidade. Nesses casos, o parente não é responsabilizado judicialmente, mas o menor deve ir para um abrigo quando a Justiça descobre o caso. “Não se pode processar essa pessoa porque ela não acionou o conselho tutelar para pedir a adoção”, diz Helen Sanches.
As crianças que enfrentam a rejeição podem desenvolver problemas emocionais e outras não conseguem uma segunda chance. “Os prejuízos estão na diminuição de confiança da criança, dificuldade de estabelecer novos vínculos e de receber amor”, diz a psiquiatra Maria Luisa.”

Mas há casos mais felizes. Em dezembro do ano passado, uma menina de seis anos encontrou o casal Cibele e Diogo Vogel, em Brasília. Oito meses antes, a menina e o irmão haviam sido adotados por outra família, que decidiu ficar com o menino e devolver a menina. “Ela é muito falante, muito carinhosa. Foi uma experiência surpreendente, porque a adaptação dela foi muito tranquila. E nós não enfrentamos resistência”, diz Cibele. Os irmãos se encontram quinzenalmente. E qual a lembrança que a menina guardou dos primeiros pais adotivos? “São como tios distantes”, diz a nova mãe.
Vejam as principais razões da devolução e como evitar que os problemas usuais cheguem a esse ponto apontados pela revista Época:
Problema: Após anos da adoção, os pais dizem que não é possível mais ficar com a criança por dificuldades de convivência. É muito comum isso acontecer quando os filhos chegam à adolescência e começam a testar os pais
O que fazer: Entender que a adoção é um ato irrevogável. Os conflitos acontecem com pais biológicos ou adotantes, principalmente na puberdade. A criança adotada pode estar testando os pais se eles realmente a amam. É preciso falar com as crianças sobre suas dificuldades. E, se necessário, procurar a ajuda de um técnico judiciário ou um psicólogo
Problema: O adotante tem um sentimento de bondade ao realizar a adoção. Pensa que pode “salvar” a criança de um meio em que ela se encontra, com uma boa educação, enfocando apenas as necessidades dela. O altruísmo pode esconder uma baixa autoestima de quem adota, e isso poderá influir no relacionamento com a criança
O que fazer: Entender que nenhuma criança a ser adotada será “salva”. Ela será uma integrante da família. Se os pais se sentem altruístas, terão dificuldade em colocar limites e a criança nunca vai corresponder a suas expectativas
Problema: Casais que não podem gerar seus próprios filhos podem ter expectativas exageradas em relação às crianças adotadas. Dependendo de como a infertilidade é elaborada, ela terá um efeito sobre a criança. Ao mesmo tempo que a criança adotada vai oferecer a possibilidade de uma nova família, ela também será a lembrança de que eles não puderam ter filhos
O que fazer: Elaborar o luto da impossibilidade de ter filhos biológicos. Compreender que as idealizações tendem ao fracasso, uma vez que a criança nunca vai alcançar os exatos ideais colocados pelos pais. Seja ela biológica ou não
Problema: Alguns casais tentam apagar o passado da criança. Existem aqueles que querem mudar o nome da criança e esconder que ela sofreu abandono. Ou ainda aqueles que apontam os problemas como consequência de sua origem biológica, ao chamá-la por exemplo de “sangue ruim”
O que fazer: Contar sempre a verdade. O passado da criança pertence a ela. A sugestão para o nome é que os pais considerem o nome de origem e acrescentem o de sua preferência. E nunca culpar o comportamento da criança por aquilo que ela viveu anteriormente
Problema: A fantasia de devolução costuma surgir com o aumento dos conflitos vividos na relação com a criança. Permeia a relação adotiva como uma possibilidade. Mas é preciso reforçar que a devolução só é considerada no estágio de convivência, ou seja, antes da adoção. Ou quando traz danos irreversíveis à criança
O que fazer: Quando a fantasia de devolução se intensifica, é sinal de que a relação pais-filho apresenta dificuldades que necessitam ser compreendidas e trabalhadas, com a ajuda de psicólogos e assistentes sociais
Fontes: Época e Veja.com