Suzana Sofia Moeller Schettini
Toda e qualquer criança ou
adolescente podem ser adotados, desde que os pretendentes estejam preparados
para tal adoção.
Estar preparado não significa pensar
que "se tenho muito amor para dar" isso resolverá todas as
dificuldades. A disponibilidade para amar é fundamental, entretanto, é preciso
ter consciência, em primeiro lugar, que a adoção é um caminho diferente com
especificidades próprias.
Muitos pretendentes entram nesse
caminho após anos de tentativas frustradas buscando gestar pela via natural.
Estão estressados e cansados. E têm pressa, pois o tempo passa implacável para
todos. Essa pressa gera a ansiedade que acompanha a maioria das histórias. O
caminho da adoção passa a ser a esperança para a compensação dos sofrimentos
vividos.
Essa compreensão, se está presente,
não está adequada. Embora as dores e angústia dos pretendentes sejam legítimas
e cruéis, o caminho da adoção não tem o objetivo de compensar nenhum pretendente
de nenhum sofrimento!
A ADOÇÃO É UM DIREITO DA CRIANÇA!
Quando nos habilitamos à adoção
estamos nos disponibilizando a acolher uma criança/adolescente que foram
privados de seu direito universal de estar numa família que cuide e proteja. O
foco precisa estar na necessidade da criança/adolescente.
As perguntas que devem ser feitas a
nós mesmos quando nos abrimos para determinado perfil são:
Terei/teremos condições de atender às
demandas deste perfil?
Estou/estamos preparado(s)
psicologicamente para dar conta dos revezes que podem acontecer?
Sei/sabemos quais são as premissas
básicas que devem ancorar o processo educativo da(s) criança(s) ou
adolescente(s) nesse perfil? Se trata-se de mais de uma criança, cada uma terá
necessidades diferentes que precisarão ser atendidas a contento.
Costumo dizer que nos tornarmos pais
significa iniciar uma grande aventura... Não importa se os filhos são naturais
ou gerados por outras pessoas.
Todos os filhos darão muito trabalho
independentemente da forma que vêm para nós ou da idade que tiverem ao chegar!
Por isso, é preciso ter convicção se realmente desejo/desejamos encarar a
maternidade/paternidade com todos os desafios inerentes a este papel.
Todos os filhos precisam de nosso
tempo e dedicação! Será preciso renunciar a algumas coisas para abrir espaço
aos filhos que virão. Estou/estamos pronto(s) para isso?
Quando nos decidimos encarar o
caminho da adoção, estamos optando por um projeto diferenciado. Estamos nos
disponibilizando a amar uma criança/adolescente gerado(s) por outras pessoas
que não conseguiram assumir a sua paternidade. Será preciso renunciar ao nosso
projeto original - gerar os próprios filhos - para abrir-nos a este novo
caminho. Portanto, vamos começar tudo novamente e de outra forma. Por isso,
nada pode acontecer intempestivamente, com pressa, na emoção de um momento.
É preciso aprender e apreender as
diferenças do caminho da adoção, que pode ser fantástico, se trilhado com
tranquilidade e segurança.
É preciso compreender a imensa
responsabilidade que é trazer para a sua vida crianças que já têm registros de
desamor e rejeição nas suas histórias.
Tenho visto histórias maravilhosas de
superação e êxito com famílias que se constituíram pela adoção de crianças com
perfis diferenciados. Entretanto, também tenho acompanhado muitas tragédias com
desistências e devoluções quando a adoção é feita sem as devidas reflexões e
sem o projeto adotivo estar devidamente amadurecido.
As crianças e adolescentes que nos
propomos a adotar não são instrumentos para resolver as nossas questões
existenciais. Não são objetos que podem ser descartados ou devolvidos como
compras defeituosas. São sujeitos de direitos. Nós somos os adultos da história
e cabe a nós nos prepararmos profunda e intensamente para podermos encarar o
seu processo educativo com a segurança e tranquilidade necessárias. Pois será a
partir de nós que eles se organizarão psicologicamente.
Pais seguros, filhos seguros.
Pais tranquilos, filhos tranquilos.
Pais de verdade, filhos de verdade.
Pais de verdade, filhos de verdade,
famílias verdadeiras!