matéria da jornalista Jucimara de Padua publicada no Jornal A CIDADE de Ribeirão Preto Quinta-Feira, 5 de Fevereiro 2009
O casal de homossexuais João Amâncio, o John, e Edson Paulo Torres recebeu ontem o documento para fazer o registro dos quatro filhos adotivos sobre quem eles têm a guarda provisória há dois anos. Mas o novo registro das crianças só deverá sair hoje por um motivo curioso. “Não conseguimos fazer isso hoje [ontem] porque o programa de computador do cartório é configurado para imprimir pai e mãe no registro civil das crianças. No nosso caso, tem que sair pai e pai”, explica John.
No documento também serão registrados os nomes dos avós paternos das crianças. “Eles [os funcionários do cartório] vão alterar o programa e nesta quinta-feira estará tudo certo”, afirma John.
Novos vínculos
Ontem, o casal também foi até o cartório do bairro Campos Elíseos e retirou o vínculo que as crianças tinham com a família anterior. “Em todos os documentos deles vai constar agora o nosso nome. O vínculo com a família do passado foi quebrado. Agora temos um futuro pela frente e as marcas do passado vão ser enterradas de vez”, disse o cabeleireiro.
Segundo ele, a nova família vai se sentir plenamente realizada quando tiver em mãos a documentação oficial da adoção.“Com o registro deles vou comemorar de verdade e me sentir vitorioso. É uma conquista muito grande e uma quebra do tabu da família tradicional. Duas pessoas que se amam como nós têm muita capacidade para criar seus filhos”, comenta John.
A adoção foi autorizada pelo juiz Paulo César Gentile, da Vara da Infância e da Juventude, do Fórum de Ribeirão Preto.
Preconceito
O cabeleireiro conta que em nenhum momento sentiu algum tipo de preconceito da população contra o casal gay que resolveu adotar quatro crianças.“O preconceito vem das instituições. É a religião, a política, as leis, mas as pessoas nos tratam muito bem”, afirmou.
Ele disse que já foi parado várias vezes nas ruas por senhoras que fazem questão de abraçá-los e dar os parabéns pela atitude.“Tem gente que chega e diz que ficou arrepiada com a nossa atitude e abraça a gente. Recebemos muitos elogios”.
Futuro
O casal já criou dois filhos biológicos de Torres e agora sonha com o futuro de mais quatro crianças.“Temos muito carinho e educação para dar a eles. Nossa orientação sexual não influencia em nada.”
O casal John e Torres ganhou a tutela provisória de quatro crianças que estavam no Carib (Centro de Adoção de Ribeirão Preto) em 2007. A tutela dos irmãos Suelen, Caroline, Willian e Beatriz foi concedida pelo juiz Paulo César Gentile, da Vara da Infância e da Juventude de Ribeirão Preto. Ele tomou a decisão após receber uma carta de Suelen, a irmã mais velha das crianças. Ela pedia para que Gentile autorizasse ela e os irmãos a morarem com o casal.
Com os cabeleireiros, as crianças realizaram vários sonhos que não tiveram com os pais biológicos, viciados em drogas: participaram da primeira festa de Natal e souberam o que é comemorar um aniversário. As crianças também frequentam a escola e têm boas notas.