A professora deve saber que meu filho é adotivo?

texto de Monica Krausz
Quando o meu filho Vincent chegou eu já era voluntária do Projeto Acolher, uma ONG de apoio a adoção de São Paulo (SP), então já havia ouvido muitos relatos sobre adoções realizadas e já tinha certeza de que sempre contaria a verdade sobre sua história para ele. Os grupos de apoio a adoção são muito importantes, entre outros motivos, para que as pessoas sintam segurança de suas ações no dia-a-dia. Por isso, também, eu achava que devia contar a verdade sobre a sua história para todo mundo, dar entrevistas e falar sobre o assunto com o maior número de pessoas até para ajudar a reduzir o preconceito contra adoção que, infelizmente, ainda existe.

Com o tempo comecei a perceber que, justamente por causa do preconceito, nem todas as pessoas reagiam bem quando sabiam da verdade. Algumas davam um sorrisinho amarelo, constrangido, outras começavam a me endeusar como se eu tivesse feito um grande ato de caridade ao adotar. Não, eu não queria ser endeusada porque não fiz caridade ao adotar, simplesmente ganhei um filho, o filho que eu tanto queria. Ainda me lembro do dia em que estava dando mamadeira para o Vincent e um amigo do meu cunhado perguntou por que eu não estava amamentando. Então eu disse que não estava amamentando porque o meu filho era adotado e ele ficou até meio pálido de susto. (Na verdade eu não estava amamentando porque ele, que chegou com 3 meses, já estava acostumado com mamadeira e porque eu não tive tempo para fazer um tratamento hormonal para amamentar , mas isso é assunto para uma outra coluna.)


Mesmo assim continuei falando a verdade para todo mundo. Mas quando o meu filho cresceu um pouco eu é que comecei a ficar constrangida com o constrangimento das pessoas, não queria que ele percebesse o preconceito. Então decidi que não ia falar a verdade para todo mundo, só para quem eu percebesse que merecia ser presenteado com a verdade. Quando alguém chegava comentado que o meu filho devia ser a cara do pai porque não tem nada meu eu logo dizia que ele era a cara do pai mesmo porque já deduzia que quem faz um comentário desses não entenderia o que representa a adoção.


Mas quando nosso filho chega à idade escolar já é outra história. Nesse caso eu sempre contei para os diretores e professores dele sim, porque sentia que a qualquer momento o meu filho, que sabe de toda a sua história, poderia fazer algum comentário ou pergunta sobre adoção e queria ter certeza de que ele seria acolhido e entendido. Então sempre tratei de ter uma boa conversa com as pessoas que seriam responsáveis por ele na escola. No ano passado viemos morar em Cotia (SP) e ele mudou de colégio. Foi engraçado que não lembrei de falar sobre isso com o dono da escola quando fui conhecê-la e nem na hora da matrícula eu lembrei. Na primeira semana de aula me toquei e corri para falar com o diretor, que felizmente me atendeu muito bem e não demonstrou nenhum preconceito. (Em outra coluna podemos falar sobre o preconceito na escola)


Na primeira reunião com a professora quis checar se ele havia falado com ela sobre o assunto e em sua resposta tive a certeza de que sempre fiz a coisa certa: ela me contou que foi ótimo eu ter contado ao diretor porque no mesmo dia ele falou com ela e naquela semana mesmo meu filho falou sobre o assunto com ela também. Ele encontrou um amigo na mesma classe, que também é filho adotivo, e os dois foram perguntar para a professora se ela também era adotiva. Na mesma hora, como ela já sabia da história dele, ela disse que não, que ela era filha "de barriga" da mãe dela, mas que ela achava muito legal quem era adotado porque os filhos adotivos são muito desejados, muito procurados e muito amados. Os dois meninos sairam felizes da vida do papo com a professora e possíveis constrangimentos foram evitados. Será que se ela tivess e sido pega de surpresa o papo seria tão tranqüilo? Pode até ser que sim, durante o ano percebi que a professora tinha mesmo uma cabeça boa, mas, como diz o ditado, prevenir é bem melhor do que remediar.


Mônica Krausz é Jornalista Amiga da Criança e mãe adotiva do Vincent, 8 anos. Há 9 anos é voluntária do Projeto Acolher, ONG de apoio a adoção, em São Paulo (SP).