Adoção consensual é alvo de críticas

[Correio Braziliense (DF), Hércules Barros – 17/10/2008]

Falta de preparo adequado de quem adota pode dificultar a relação com a criança e, em alguns casos, sem saber o que fazer, os pais adotivos recorrem à Justiça para desfazer a adoção
Embora não existam dados estatísticos, especialistas na área de adoção acreditam que a abordagem de mães em maternidades, por meio de intermediários, é a prática mais usual de quem pretende adotar no Brasil. Uma vez feito o acordo, um juiz é procurado para que a adoção seja oficializada.
Segundo o psicólogo responsável pela área de adoção da Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal, Walter Gomes de Souza, a principal crítica feita à adoção consensual, como é conhecida essa prática, é a falta de preparo adequado de quem adota. Às vezes, a relação com a criança pode se tornar difícil e, por não saber como contornar a situação, alguns pais adotivos recorrem à Justiça para desfazer a adoção. “Muitas vezes, as pessoas procuram ajuda tardia, quando a crise chega a um ponto em que o menos pior a se fazer é devolver a criança para um abrigo”, diz o psicólogo. Das 300 adoções registradas em Brasília (DF) no ano passado, quatro acabaram em devoluções.
Todas elas surgiram da negociação direta entre quem adotou e os pais biológicos. Pesquisa feita com 1,5 mil pessoas pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) revela que do total de entrevistados, 4,9 % disseram ter adotado uma criança de forma legal. Porém, 4,7% disseram que “pegaram uma criança para criar”, espécie de adoção informal, na qual o menino ou menina fica morando na casa de outra família. Muitas vezes, a criança acaba sendo tratada como uma espécie de empregada e, se ocorrem problemas, há a devolução para os pais biológicos.
Outra questão delicada é a chamada adoção à brasileira, ou seja, o casal vai a um cartório e registra o filho adotivo como se fosse biológico. O problema, deste tipo de adoção é a falta de preparo adequado, podendo acarretar maior rejeição por parte dos pequenos, e ainda, o risco para os casais que adotam desta forma de sofrer algum tipo de extorsão.